Anne Campos, do Time Judô Rio, é aprovada no 1º Exame Nacional de Juízes de Kata
Avaliação foi realizada de 11 a 13 de fevereiro, em Anápolis (GO). Ao todo, 74 candidatos de 19 Federações participaram do Exame
O Time Judô Rio já pode se orgulhar de ter uma juíza de Kata. A sensei Anne Campos, fundadora da Escola de Judô Keiko Fukuda, foi aprovada no 1º Exame Nacional de Juízes de Kata, realizado de 11 a 13 de fevereiro, em Anápolis (GO). Ao todo, 74 candidatos de 19 Federações participaram do Exame. Cada um pode escolher o Kata para o qual iria prestar o exame e a representante da FJERJ escolheu os cinco: Nage-no-kata, Katame-no-kata, Ju-no-kata, Kime-no-kata e Kodokan Goshin Jutsu. A prova foi realizada em dois dias, no primeiro foi a avaliação prática, das 09h às 18h. No segundo dia foi a avaliação teórica, com 20 questões para cada kata. Um desafio e tanto, mas Anne conseguiu a aprovação em todos.
“Não posso deixar de ressaltar a importância da sensei Iris Liers em todo esse processo, mesmo sem poder realizar a avaliação, por não ter a graduação mínima exigida (3°dan), ela foi comigo e foi minha dupla durante a avaliação prática de todos os katas, sem ela teria sido muito mais difícil esse processo”, contou Anne.
A história da sensei não é muito diferente da maioria das mulheres que quer seguir a prática das artes marciais, uma história de resistência e resiliência.
“Eu sou de Recife, mas vim morar no Rio aos 7 anos com minha família. Comecei o judô em 1999, aos 9 anos de idade, mas desde de mais nova, lá em Recife, eu já me interessava por lutas. Pedia pra minha mãe me colocar, mas ela, com pensamento machista, não deixava por considerar que ‘luta era coisa de menino’. Na minha nova escola no Rio, em Realengo, tinha aula de judô com o sensei Josildo Carneiro. Foi lá que iniciei a prática da modalidade e nunca mais parei”, disse Anne.
Como atleta, ela teve os melhores resultados nas categorias de base. Entre 13 e 20 anos, nesse participou de três Campeonatos Brasileiros Regionais, sendo campeã em 1 e vice-campeã em 2. Além do vice-campeonato em mais um Brasileirão e campeonato Sul-americano. No período de transição para o Sênior, se afastou das competições e se aproximou da Academia. Cursou Educação Física na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, fez pós-graduação em Lutas pela mesma Universidade e também em Educação Física Escolar pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro. Em 2016, fundou a própria agremiação, juntamente com a aluna Iris Liers, a Escola de Judô Keiko Fukuda. Além da judoca que dá nome à sua academia, a mulher mais graduada da história do judô e última aluna direta de sensei Jigoro Kano a falecer, Anne tem outras inspirações.
“No início, só conhecia a competição. Então, lembro bem de assistir as lutas da Ryoko Tamura e me inspirar bastante, assim como na Daniele Zangrando e Edinanci Silva. Hoje, minhas inspirações estão na arbitragem como os senseis Jeferson Vieira e André Mariano. Também me inspirava na minha grande amiga e ex-árbitra, Marcia Copeli, que foi a primeira mulher árbitra do Rio. No Kata, minhas referências são os senseis Ana Cristina e Flávio Baltar e os multicampeões senseis Ryoti Uchida e Luis Alberto, de São Paulo”, revelou.
A sensei Ana Cristina, coordenadora de Katas da FJERJ, faz questão de ressaltar o talento de Anne e acredita que o pioneirismo dela influenciará a outras mulheres.
“A Sensei Anne Campos vem se destacando em várias áreas do judô. Ela tem o verdadeiro espírito do judoca. Uma apaixonada da modalidade e uma estudiosa dos Katas. É de extrema importância que as mulheres ocupem lugar de destaque em todos os setores. Representatividade é fundamental, pois assim outras mulheres passam a acreditar que é possível chegar lá, que vale à pena se dedicar pois o reconhecimento virá”, disse Ana Cristina.
“A FJERJ vem valorizando e apoiando bastante a participação de mais mulheres no cenário do judô. Oportunidades estão sendo dadas as mulheres que se destacam em diferentes áreas. Ter uma gestão que compreende essa necessidade é fundamental e essa atitude, de valorizar o papel das mulheres na modalidade, só fortalece ainda mais o trabalho do Time Judô Rio”, completou.
O desafio para Anne, que também faz parte do quadro de arbitragem de shiai, com a categoria Nacional A, é ajudar na divulgação da arte dos katas dentro do Estado.
“Comecei a arbitrar em 2015, na ocasião da minha graduação para o 3° Dan, desde lá me sinto mais motivada a continuar. Espero que a prática dos Katas seja ainda mais constante e valorizada no nosso estado, que todos os professores percebam a importância desse treinamento para o desenvolvimento completo de cada judoca, seja ele de que graduação for. Vou continuar difundindo e fomentando a prática dos Katas, e agora também essa parte competitiva em que fui certificada. É mais uma porta que se abre, mais uma possibilidade e vertente do judô, que deve ser mais explorada por todos”, concluiu Anne.