Lenda do judô do Rio de Janeiro, professor José Pereira completa 91 anos
No aniversário do grande responsável pela padronização e crescimento da arbitragem nacional a partir do trabalho durante 18 anos na FJERJ, o Time Judô Rio presta uma homenagem ao homem que teve uma vida dedicada ao esporte
Uma lenda do judô do Rio de Janeiro chega a 91 anos, com mais
de meio século dedicados ao esporte. A história do professor José Pereira se
confunde com a própria história do esporte na cidade. Quando ele chegou à
Cidade Maravilhosa, vindo da longínqua Penedo para tentar a vida como jogador
de futebol, o judô começava a ganhar espaço. Pereira foi um dos primeiros faixas-pretas
a difundir a modalidade no Nordeste do país. No final do anos 80, assumiu a
coordenação de arbitragem da Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro, sob
a direção de Emmanoel Mattar e seguiu depois que Ney Wilson se tornou o
presidente, completando quase 20 anos de atuação na arbitragem.
“A FJERJ foi o que me alavancou no mundo do judô. Foi através dela que passei a
ser conhecido nacionalmente e o que permitiu minha chegada à CBJ. Minha vida de
praticante de judô, árbitro, toda minha trajetória no esporte até hoje, devo à Federação”,
disse o professor Pereira.
E a FJERJ também deve muito ao professor Pereira. Algumas de ações que hoje são
tão comuns, foram implantadas por ele. Entre estas estão, o código de trajes da
arbitragem, a postura do árbitro, início simultâneo das competições com
combates nas diversas áreas de luta e até aulas teóricas para os candidatos à
promoção de Dan. Mas, apesar de tantas inovações, o principal destaque de sua
atuação à frente da arbitragem do Rio de Janeiro foi aumentar a visibilidade da
mesma nos cenários nacional e internacional.
“Naquela época, os árbitros que eram vistos para assuntos internacionais eram o
Yamazaki e o Catalano, ex-aluno do Yamazaki. Ninguém tinha muito acesso a
arbitrar internacionalmente, nem as competições pequenas. E eu consegui
participar de alguns desses, até do Mundial Universitário, sendo apenas FIJ B.
Cheguei a dar palestras para árbitros FIJ A. Ficava constrangido, mas como
deixavam, eu falava. Inclusive para os grandes mestres de São Paulo. Graças a
Deus, tenho orgulho de ter sido sempre muito respeitado”, contou.
Mas, é claro, mudar as rotinas e aumentar o nível de exigência, tanto no
comportamento fora dos tatames quanto na atuação dentro dos tatames, não foi
fácil.
“Cansei se ver gente entrar para arbitrar de bermuda, camisa colorida, botava
garrada d’água debaixo da cadeira quando tinha árbitro lateral. Eu criei o
uniforme, a entrada sincronizada, a punição com cartões amarelo para advertência
e vermelho para eliminação, ajudei a moldar a atuação do técnico à beira do
tatame, limitando as orientações. Mas para isso perdi, inclusive, amigos,
porque cada um queria fazer da sua forma e se destacar mais. E uma das coisas
que mais me incomoda no ser humano é a vaidade extrema e a futilidade”.
Todo esse pioneirismo rendeu frutos. Em 2007, foi condecorado como árbitro mais
velho em atividade pela FIJ durante o Mundial do Rio de Janeiro. Além dos
tatames, o alagoano já teve um programa chamado “Seu corpo, sua
vida”, que ficou por oito meses no ar, em 1968/69 na extinta TV TUPI. No
programa, ele dava dicas de bem-estar, entrevistando professores de ginástica,
karatê, entre outros. Em 2017, conseguiu realizar o sonho de lançar seu livro “Judô,
um aprendizado para a vida”, no qual destaca o princípio de prosperidade mútua
para o crescimento pessoal e profissional. Aos 91 anos, sabemos que o professor
Pereira ainda tem muita história para contar.
“Eu quero lançar a segunda edição do meu livro. No primeiro, não consegui
contar nem um centésimo do que vi, vivi e aprendi dentro do judô. Esse é meu
novo projeto”.
E quem pode duvidar?