Reforçando que o Judô não tem barreiras, FJERJ realiza Exame Final de Faixas de 2024

Com a presença de 165 candidatos, todos aprovados, evento ocorreu nos dias 9 e 10 de novembro, na Comissão de Desportos da Aeronáutica
* por Diano Massarani

No último fim de semana, dias 9 e 10 de novembro, a Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro (FJERJ) promoveu o Exame Final do processo de outorga de faixas de 2024. Ao longo dos dois dias, a Comissão de Desportos da Aeronáutica recebeu 165 candidatos, sendo 97 a faixa preta e 68 a uma nova graduação, todos aprovados ao final. Do ponto de vista individual, o evento se constitui como um marco na vida de cada judoca participante. Já a partir de uma perspectiva mais ampla, o evento adquire enorme relevância ao demonstrar de forma concreta que o Judô está aberto a todos.

Entre os quase 100 faixas pretas formados no sábado era possível encontrar toda sorte de histórias e de planos para o futuro. Lá estavam o adolescente Thiago dos Santos, almejando ser um atleta olímpico, a jovem Maria Eduarda Borges, aspirando misturar conhecimentos acadêmicos e de Judô para cuidar de crianças, e o veterano Manoel Rodrigues, concluindo um sonho de menino iniciado há meio século e já elaborando a produção de um livro sobre os aspectos técnicos do Judô.

Thiago dos Santos, 15 anos, judoca da Umbra – Club de Regatas Vasco da Gama desde os 4 anos de idade

Ainda aparentando sentir um frio na barriga pelo exame recém-terminado, Thiago misturava timidez e animação ao falar sobre todas as oportunidades que o Judô vem lhe oferecendo há mais de uma década e os seus planos como um novo faixa preta:

“O Judô já vem abrindo muitas portas na minha vida, como a possibilidade de estudar em uma escola particular ganhando bolsa. E com a faixa preta, novas portas serão abertas. Pretendo seguir me dedicando muito para me tornar um atleta e um passo importante é competir na próxima edição dos Jogos da Juventude. Com a faixa preta, eu chegarei muito mais empolgado e confiante para lutar”.

Os Jogos da Juventude de 2024 serão em João Pessoa (PB), o que significa uma longa viagem para Thiago. Seria natural que sua mãe, Caroline, ficasse preocupada com a rotina cada vez mais intensa de viagens de um adolescente que busca fazer sucesso no Judô de alto rendimento. No entanto, seja pela maturidade adquirida por Thiago no processo de se tornar um faixa preta, seja pela confiança depositada na equipe de mestres da Umbra – Vasco, Caroline é uma mãe segura, além de muito orgulhosa, dos passos que o filho vem dando:

“Apesar de ter apenas 15 anos, o Thiago é muito maduro, independente e responsável, e isso tudo eu devo à sensei Soraya e aos senseis Fabrício e André, da Umbra-Vasco, uma equipe que é como se fosse uma família. Eu tenho toda a confiança de deixar o meu bem mais precioso, que é o meu filho, nas mãos desta equipe. Hoje, passou um filme na minha cabeça quando eu estava vindo para cá, ao perceber que meu filho, se tornando um faixa preta, vai ser um exemplo para outras crianças. Inclusive para a irmã dele, que está com 4 anos, já faz parte da equipe e se inspira muito nele”.

Maria Eduarda Borges, 18 anos, judoca do Dojo Zareba desde os 9 anos de idade

Talvez a pessoa mais sorridente após o término do exame de faixas no sábado fosse Maria Eduarda. Era um sorriso que não aparecia apenas na hora das fotografias com os companheiros, entre os quais o sensei Zareba. Até mesmo quando ficou sozinha por um breve período de tempo ela estava sorridente. E não é para menos. Agora, como faixa preta, Maria Eduarda se sente repleta de motivação para realizar seus objetivos:

“A minha faixa preta não é só para mim. Primeiro porque é uma felicidade para a minha família inteira. Depois, porque o conhecimento que adquiri não vai ficar retido só para mim. O meu objetivo como faixa preta é passar o conhecimento para crianças e principalmente incentivar outras meninas a continuarem o caminho do Judô. O Judô é lindo, seja na parte de filosofia, de educação, de comprometimento, e acho que muitas mulheres acabam desistindo do Judô por situações da vida. Por isso eu gostaria muito de conseguir incentivar mulheres a continuarem no Judô. Além desse objetivo que pretendo levar adiante na minha academia, penso também em me dedicar a crianças neurodivergentes. Minha mãe tem uma clínica nesta área, eu pretendo me especializar em terapia educacional e, junto com o Judô, oferecer um olhar mais humanizado a este tema”.

Manoel Firmino Rodrigues, 70 anos, judoca do Judô Clube Ren-Sei-Kan desde os 64 anos de idade

“Nunca desista dos seus sonhos”. Esse é um conselho tão repetido que às vezes perde até o valor. Mas não perdeu para Manoel, que precisou de mais de meio século para realizar o sonho de se tornar um faixa preta. Um sonho que começou em 1969, foi interrompido por novos rumos em sua vida, e retornou em 2019, dando novos rumos a sua vida:

“Iniciei no Judô em 1969, mas tive que parar cedo, pois com 14 anos eu já comecei a trabalhar com carteira assinada. Até que em 2019, quando eu já tinha 64 anos, fui acompanhar minha netinha que fazia Judô na academia Ren-Sei-Kan e o sensei me chamou para voltar. No início, até pensei que era brincadeira, pois já me achava muito velho para isso. Mas recomecei do zero, como faixa branca, e consegui realizar o meu sonho de garoto e me tornar um faixa preta”.

Apesar de ser fascinado pelos aspectos técnicos do Judô, pretendendo inclusive escrever um livro sobre o tema, o grande ensinamento que Manoel diz ter aprendido com o Judô foi o do companheirismo:

“Perdi um filho quando ele tinha 20 anos e acabei me enterrando no trabalho, além de fumar e beber muito. Eu não aguentava fazer nada. Mas com a chegada dos meus netos eu vi que precisava melhorar, pois ia chegar uma hora que meu corpo não iria aguentar. E o Judô me ajudou muito pelo senso de companheirismo que me ensinou. Sempre fui introspectivo e não era de fazer muitas amizades, mas o Judô me deu esta oportunidade e hoje eu tenho muitos amigos”.

Thiago, Maria Eduarda e Manoel, assim como todos os aprovados no exame final do último fim de semana, receberão suas novas faixas e graduações na Cerimônia de Outorga do dia 14 de dezembro.

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