Há 2 anos dos Jogos de Tóquio, Ney Wilson, ex-presidente da FJERJ, detalha planejamento da seleção
Atual gestor de Alto Rendimento da CBJ apontou os objetivos e os próximos passos do judô brasileiro até 24 de julho de 2020
Daqui a exatos dois anos a tocha olímpica será acesa no Estádio Olímpico de Tóquio para a abertura dos Jogos da XXXII Olimpíada de Verão, reunindo os melhores atletas do mundo em busca das tão sonhadas medalhas olímpicas. Para o judô brasileiro, modalidade que mais deu pódios ao país na história dos Jogos – 22, ao todo – os próximos 730 dias serão de trabalho intenso com foco na melhor preparação dos atletas e na formação da seleção olímpica que representará o Brasil nos tatames do Nippon Budokan de 25 de julho a 1º de agosto. Muitos atletas do Judô Rio estão em busca de uma das 14 vagas da delegação. Entre os principais estão Sarah Menezes, Jéssica Pereira, Rafaela Silva, Tamires Crude, Jeferson Santos Jr, Victor Penalber e David Moura.
Responsável pela gestão de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô, Ney Wilson Pereira explica na entrevista abaixo detalhes do planejamento da seleção brasileira principal de judô, os objetivos para este ciclo e os próximos passos até 24 de julho de 2020.
– A dois anos de Tóquio 2020, em que etapa está a CBJ em termos de planejamento das ações da seleção principal para os Jogos Olímpicos?
Ney Wilson: Acredito que já avançamos 60% do nosso ciclo olímpico, uma vez que começamos antes do término dos Jogos Olímpicos Rio 2016, quando lançamos o “Projeto Ohayo – O despertar de Tóquio.” Podemos dizer que 60% daquilo que foi planejado já foi executado. Fazendo um balanço, eu diria que alcançamos os principais objetivos e metas, que eram manter o país entre os cinco melhores do mundo, seja por equipes, seja no individual. Sob todos os parâmetros, nós nos mantivemos entre as cinco maiores potências do judô mundial. Esse é o nosso grande desafio, já que nos últimos dois Jogos Olímpicos a gente ficou na sexta posição no quadro geral de medalhas. Parece simples subir uma posição, mas é bastante complexo e a gente tem trabalhado duro para manter isso até o final do ciclo.
– Qual é o principal foco da seleção no ano de 2018?
NY: Diferentemente do que aconteceu no ciclo olímpico passado, quando fomos país-sede e, com isso, tínhamos todas as vagas garantidas, hoje precisamos brigar para classificar todas as 14 categorias para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Então, 2018 é o início dessa fase. A gente tem categorias num posicionamento excepcional e outras que não estão tão confortáveis, onde precisaremos trabalhar duro. Estamos nessa fase de consolidar essas categorias que ainda não conseguiram se posicionar de uma maneira constante dentro do calendário internacional.
– O Mundial de Baku será um bom laboratório para mapear os possíveis adversários dos brasileiros nos Jogos de Tóquio ou ainda é cedo?
NY: Eu penso que ainda é cedo. As equipes ainda estão em formação, assim como a do Brasil. Muitos atletas tiveram sua licença sabática de um ano e agora estão retomando. Alguns com dificuldade, outros com mais facilidade. Isso vale para todos os países. Então, ainda é difícil a gente identificar claramente quem serão os atletas que estarão nos Jogos Olímpicos. Mas é claro que esse Mundial vai nos ajudar bastante no nosso planejamento. É um marcador importante para o trabalho.
– Em 2017, o Brasil foi vice-campeão mundial por equipes, prova que estreará no programa olímpico em 2020. Qual é a estratégia da CBJ para formação e classificação dessa equipe para os Jogos?
NY: Montamos uma estratégia em cima do Campeonato Pan-Americano de 2018, que era uma competição que valia pontos para o ranking por equipes e, para as nossas pretensões de pódio no Campeonato Mundial, seria muito importante estarmos bem posicionados no sorteio. Já foi consolidada a nossa posição como segundos colocados nesse ranking atrás apenas do Japão. Isso nos coloca em lados opostos no chaveamento. As outras equipes são do mesmo nível do Brasil. A única que ficaria acima é o Japão, que está do lado oposto e só nos encontraríamos numa possível final. Não tem caminho fácil num Mundial. Ter uma equipe homogênea fará muita diferença nesta prova.
– O Judô escolheu a cidade de Hamamatsu como base para a aclimatação na véspera dos Jogos Olímpicos. Qual é sua avaliação depois de todas as visitas e testes que já foram feitos até aqui?
NY: A ideia é oferecer aos atletas as melhores condições de treinamento final, de lapidação, mas, ao mesmo tempo, num local mais reservado, em que os judocas possam estar focados única e exclusivamente em sua preparação final.
Em Hamamatsu, fazemos tudo andando. O hotel é muito bem localizado, isolado do grande centro e, ao mesmo tempo, temos um ginásio que fica a menos de 500 metros de distância, dá para ir andando. Além disso, o Japão é o berço do judô. Então, temos tudo relacionado à modalidade: os equipamentos, os tatames, que eles compraram agora e que são especiais para treinamento com densidade maior. Tudo isso facilita. Eu diria que temos as condições melhores. E a prefeitura de Hamamatsu realmente abraçou o judô. Todas as nossas necessidades têm sido atendidas. Trabalhamos com eles desde 2016 e estamos numa fase bem adiantada com relação ao planejamento. Este ano tivemos um teste interessante, levando a nossa equipe multidisciplinar à Hamamatsu. Cada área apresentou um relatório minucioso, mostrando quais necessidades ainda não foram atendidas. E nosso grande teste será em 2019, quando faremos em Hamamatsu a aclimatação para o Campeonato Mundial, que será no Japão.
– Como será o processo de definição da equipe olímpica em relação aos critérios de convocação para Tóquio 2020?
NY: Para formação da equipe olímpica os atletas precisarão estar dentro da zona de ranqueamento olímpico, o que significa estar entre os 18 melhores atletas do mundo, onde só entrará um atleta por país por categoria. Considerando isso, essa será a nossa lógica de convocação. Ainda estamos aprofundando o estudo sobre qual a melhor forma de selecionar, quando tivermos dois ou mais judocas entre os 18, qual atleta está mais bem preparado para aquele momento. Por exemplo, um atleta pode ter conquistado muitos pontos um ano antes dos Jogos Olímpicos, enquanto outro está conquistando muitos pontos nos últimos seis meses. Então, considerar os resultados mais atuais é uma forma possível de avaliar. A gente ainda não detalhou os critérios todos para definir. Se tivermos uma diferença muito grande – um é primeiro colocado e o outro é o 18º – vai o 1º colocado. Agora, se tivermos dois embolados, aí sim a comissão técnica deve se reunir para estabelecer a melhor opção para o Brasil.
Foto: Daniel Zappe/MPIX/CBJ